ANOTAÇÕES DE VIAGEM
Poema de Antonio Miranda
1. Árido sabor das estradas,
areias em suspensão,
pestana breve do motorista
e meus olhos, ávidos de paisagem,
insones, ruminantes e analíticos.
Sempre estradas, muitas curvas
sinais, inscrições de paralamas.
2. Ah, meninos de beira de estrada,
das pequenas estações,
dos portos amazonenses,
dos postos de gasolina:
teus cofos de pitomba,
teus feixes de pescado
e as pamonhas com café!
Ah, mendigos cantadores
de Itabaiana, de Patos,
de Soledade e Campina Maior,
dedilhando suas dores
em lamurientas sanfonas.
3. Sinto as dores de meu povo,
o arado sulcando a terra,
a semente germinando
como no ventre a criança.
4. Ah, o peso das horas
no corpo mal dormido,
a água fria das nascentes
e o bom dia
da pensão de estrada
sem Teófilo Otoni,
em Colatina, em Uberaba!
O trem vencendo túneis,
descendo a serra
rumo a Paranaguá.
Ah, o frio, estaçõezinhas
quase sem nome,
o café à janela,
teu corpo a meu lado.
Ilustração gerada por IA, por
Nildo Moreira, em 2025.
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